Por: Stephen Kanitz in Educação Para Século XXI
Você se torna o herói de seu filho quando ele lhe vê como o exemplo a ser seguido. É o pai herói, algo muito assustador.
Por muitos anos convivi com um professor na USP que era muito estudioso. Ele era um idealista, acreditava que faria um mundo melhor se somente sua visão política fosse compartilhada por todos. Pregava a luta armada para chegar ao poder, coisa comum na universidade quando eu era mais jovem.
Era sério e sisudo, nunca o vi soltar uma gargalhada; trabalhava aos sábados e domingos e ia a todas as reuniões de protestos. Fumava, mas não bebia. Não tomava sol por causa dos raios ultravioletas e era vegetariano por convicção. Bastante tímido, vestia-se mal; não era necessariamente uma pessoa encantadora. Você tinha que fazer um enorme esforço para conhecê-lo. Não me parecia uma pessoa feliz, pois os problemas do mundo pareciam que residiam nos seus ombros.
Ele me fazia lembrar da famosa cena contada por Kierkegaard. Um homem abstraído, tão preocupado com problemas mais importantes que ele, que lentamente se esquece de que existe, de que tem valor por si só, a tal ponto que um dia ele acorda e descobre que está morto.
Muitos professores universitários acabam assim. Frustrados por não terem mudado o mundo, amargurados com o rumo diverso do planeta. Os seus filhos dificilmente irão considerar estes mestres como exemplos a ser seguidos. Infelizmente, são poucos os professores que seus filhos irão idolatrar.
Um aluno aprende mais pelos exemplos de seus pais, amigos e de alguns poucos professores do que pelas pérolas de sabedoria contidas nos livros textos e transmitidas em aula.
Nossos filhos sonham encontrar na faculdade belos exemplos de adultos líderes da sua sociedade, para fazer contraponto com as falhas e fraquezas de seus pais. Infelizmente, a maioria se decepciona. A maioria dos pais também se decepciona com o que os filhos aprendem na escola e os exemplos de vida que deveriam ser seus professores.
Lee Iacocca, ex-presidente da Chrysler, quis ser presidente da República e mandou publicar o seguinte anúncio: “Se a nossa sociedade fosse inteligente, colocaria seus membros mais qualificados como professores de nossos filhos, e nós, pobres mortais, ficaríamos com os empregos menos importantes da economia.”, como ser presidente da Chrysler.
Em defesa dos professores, devo lembrar os leitores que com os salários atuais da maioria dos professores não dá para contratar os “membros mais qualificados” da sociedade. São os membros mais altruístas da sociedade, isto sim.
Quantas vezes já participei de reuniões de pais de alunos, lutando para não reduzir as anuidades escolares, e sim aumentá-las para melhorar o nível dos professores. Muitos pais
não percebem que reduzir anuidades das escolas significa reduzir a qualidade dos professores no ano seguinte.
Sociedades que se desenvolvem pela emulação e pelo exemplo são mais ágeis do que as que se desenvolvem com maciços investimentos em educação. Educação, na maioria das vezes, significa ensinar as teorias do passado — e não soluções inovadoras do presente.
Países onde se investe maciçamente em pesquisas, e onde os professores mostram em primeira mão estas pesquisas aos seus alunos, não estãoensinando no sentido clássico da palavra. Eles estão mostrando o exemplo, exemplos novos de teorias e soluções.
Não sou contra universidades. Sou a favor da criatividade, da pesquisa, da ciência, algo que nossas universidades públicas e privadas nem sempre ensinam. O Brasil até recentemente estava entre os últimos colocados em patentes.
Nossas universidades são inclusive pródigas em desdenhar os exemplos que surgem na sociedade civil, as lideranças que emergem do seio da sociedade. Empresários, executivos, administradores, políticos eleitos, e especialmente os líderes religiosos são vistos e retratados pelos nossos intelectuais com desprezo.
Nossa civilização está cada vez mais em frangalhos em termos éticos e morais justamente porque desdenhamos cada vez mais o exemplo da nobreza humana.
Ao escrever este capítulo, me dei conta de que praticamente dediquei a minha vida inteira a mostrar à sociedade brasileira os grandes exemplos que tínhamos neste país e que ignorávamos.
Iniciei minha carreira em 1974, quando criei a edição “Melhores e Maiores” para a revista Exame, na qual selecionava as trinta melhores empresas brasileiras, anualmente.
Foi o início de um movimento que hoje se chama benchmarking. Era uma nova forma de ver o mundo, era uma nova forma de desenvolver pesquisas, a de mostrar os bons exemplos, na área da administração.
A ciência de 1870 a 1950, e em alguns casos até hoje, era dominada por um método de pesquisa que consistia em observar doenças, o lado ruim, os defeitos, os fracassos. Até hoje a medicina gasta mais em cura de “doenças” do que em medicina preventiva, ou medicina sadia, em como manter um corpo sadio.
Sigmund Freud dominou a Psicologia por muitos anos baseado nas neuroses e as psicoses humanas, que ele observava nos seus pacientes doentes. Até hoje temos muito pouca pesquisa sobre personalidades sadias, justamente porque pessoas sadias não procuram médicos e psiquiatras.
Depois de 25 anos de “Melhores e Maiores”, decidi repetir a metodologia para criar e divulgar o prêmio “Bem Eficiente”, mostrando as melhores entidades beneficentes deste país, os grandes exemplos de solidariedade humana que temos.
O prêmio ajudou a mostrar o exemplo na área social, as cinquenta melhores entidades beneficentes deste país. Mas iniciativas como estas são poucas
na imprensa brasileira. O tema diário é normalmente sobre nossos maus exemplos, casos de corrupção, politicagem, crimes de todos os tipos, desastres, etc.
Quem você conhece pessoalmente que lhe serve de exemplo? Quem são seus “gurus”, termo nem sempre bem visto no Brasil?
Quem seu filho terá como exemplo no futuro? Quem seu filho tem como exemplo no presente? Se você não se preocupar com esta pergunta e tiver respostas claras até os oito anos de idade dele, se você não criar oportunidades para que ele aprenda destas pessoas que você escolheu, ou ajudou-o a escolher você corre um enorme risco.
Bertolt Brecht, famoso dramaturgo alemão, dizia que “pobre era o país que precisava de heróis”. Eu diria justamente o contrário. Pobre é o país que possui poucos heróis e exemplos a seguir.
Os poucos heróis que surgem de tempos em tempos, parece que temos uma certa dose de prazer em logo os destruir.
Diante dessa triste situação, a verdade é esta. O grande exemplo para os seus filhos será você.
Você e seu cônjuge. Vocês dois são os únicos exemplos em quem seus filhos poderão se basear.
Portanto, cuide para que sejam bons exemplos. É assustador mas eles irão aprender muito mais de você do que você pode imaginar.
Seu filho só tem você para aprender que a vida é bastante diferente da vida intelectual da universidade. Com você ele aprenderá a lidar com erros, incertezas e flutuações da vida. Aprenderá a lidar com reveses, como os meses em que você não tem salário garantido para pagar as contas. Nessas ocasiões ele observará se você se desespera ou se segue em frente.
Margarida,
Excelente texto!
Obrigada.